domingo, 19 de junho de 2011

Um mundo pequenino

Nos anos 50 e 60 chamavam-lhes “patos-bravos”. Eram os que vindos do Ribatejo, enriqueceram com a construção civil em Lisboa, conseguindo ascensão social pelo saldo bancário. Manifestavam nítida incongruência entre o seu nível de vida e a sua mentalidade ainda muito ligada à maneira de pensar pouco urbana. Com o passar das gerações esse desequilíbrio foi-se atenuando.
A vida às vezes corre bem às pessoas. Uma decisão tomada correctamente no momento certo, uma conjugação propícia de circunstâncias, um golpe de sorte, assim pode acontecer para que o curso da vida mude sem se saber bem nem como nem porquê. Não me refiro aos que, um bocadinho cada dia, vão consistentemente moldando as probabilidades das coisas correrem bem.
Quero-me focar nos casos em que de um momento para o outro, uma pessoa vê a sua vida simplificada. Tal como no caso dos “patos-bravos”, os sujeitos a que me refiro assumem novos comportamentos e novas atitudes, as quais não faziam parte da sua idiossincrasia. Não se atrapalham e agora capricham na exibição evidente dos sinais exteriores de riqueza. Qualquer pormenor que simbolize estatuto (mais) elevado, não é descurado: ele é propriedades, carros e barcos, jóias, conhecimentos e relacionamentos, qualquer coisa que tenha marca é adequado para mostrar.
À sua volta vão edificando um mundo pequenino repleto das mais variadas coisas que lhes serve para alimentar o ego. São felizes assim.
Eu também gosto de ter, também gosto de me sentir bem comigo próprio. Não gosto é de exibir, não gosto de ostentar. Enfim, maneiras de ser…

2 comentários:

  1. E mau gosto que os senhores tinham! Mau gosto! São uma espécie em vias de extinção, até porque a construção anda pela hora da morte... Para além disso estou em crer que prejudicaram gravemente a Mercedes - há certos modelos que mais ninguém compra...lol

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  2. É por causa desse teu feitiozinho que nunca serás primeiro ministro; nem segundo, décimo... É também por causa desse feitiozinho que me vais responder "Nem eu queria, olha o caraças!" Ficam aí duas das razões do meu gostar de ti.

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