sábado, 5 de maio de 2012

Um dia de Ventura

Hoje conheci duas pessoas: o Albânio e o Ventura.
Começo por vos apresentar o Ventura, que é mais fácil:
Com os seus oitenta anos, que me pareceram ser só dele, cabelo branco sujo despenteado, dois olhos azuis brilhantes, e fulminantes por isso mesmo.
Camisola vermelha coçada, velha mas muito viva. Bati à sua porta e chamei: Sr. Ventura! Sr. Ventura!
-- Já vou!
E veio. Explicou-me que as casas eram dos Gatos, que ali em cima é a Qtº da Boa Viagem, que havia aqui (mesmo ao lado) uma figueira de figos pretos. Então e já não há? Não, era aqui mesmo, agora é a minha casa.
-- Você desculpe mas a minha memória… sabe o que foi? Foi na guerra, entrou-me uma bala por aqui – e apontou para a goela – e ficou aqui – e apontou para o crânio.
- Ó homem deixe lá isso, passou… já passou! Atalhei eu, que inquiria sobre História.
- Os Gatos eram gémeos, sabe?
Fiquei com a sensação que já não o hei-de ver muito mais vezes.

Quanto ao Albânio, Manuel de nome próprio, contou-me o episódio do Marquês de Pombal que mandou juntar os jesuítas em cima de um tablado que construiu.
-- Queimou-os todos! Isto já foi há muito tempo, foi no tempo da História!
Percebem então porque esta não é tão fácil como a outra?

Combinámos encontrarmo-nos, na próxima vez.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

sábado, 27 de agosto de 2011

Circular interna

Circular interna de uma empresa estrangeira, para uma delegação no Porto, a propósito da linguagem utilizada pelos trabalhadores:

It has been brought to our attention by several officials visiting our corporate Headquarters that offensive language is commonly used by our Portuguese speaking staff. Such behavior, in addition to violating our Policy, is highly unprofessional and offensive to both visitors and colleagues. In order to avoid such situations please note that all staff is kindly requested to IMMEDIATELY adhere to the following rules:
1)   Words like merda, caralho, foda-se, porra ou puta-que-o-pariu and other such expressions will not be used for emphasis, no matter how heated the discussion.
2)   You will not say cagada when some someone makes a mistake, or ganda-merda if you see somebody either being reprimanded, or que-grande-cagada when a major mistake has been made. All forms derivate from the verb cagar are inappropriate in our environment.
3)   No project-manager, section head, or executive, under no circumstances, will be referred to as filho-da-puta, cabrão, ó-grande-come-merda, or vaca-gorda-da-puta-que-a-pariu.
4)   Lack of determination will not be referred to as falta-de-colhões or coisas-de-maricas and neither will persons who lack initiative as picha-mole, corno or mariconso.
5)   Unusual or creative ideas from your superiors are not to be referred to as punheta-mental.
6)   Do not say esse-cabrão-enche-a-porra-do-juízo if a person is persistant. When a task is heavy to achieve remember that you must not say é-uma-foda. In a similar way, do not use esse-gajo-está-fodido if a colleague is going through a difficult situation. Futhermore, you must not say que-putedo when matters became complicated.
7)   When asking someone to leave you alone, you must not say vai-á-merda. Do not ever substitute “May I help you?” with que-porra-é-que-tu-queres? When things get though, an acceptable statement such as “we are going through a difficult time” should be used, rather than isto-está-tudo-fodido.
8)   No salary increase shall ever be referred to as aumento-dum-cabrão.
9)   Last but not least after reading this memo, please do not say mete-o-no-cú. Just keep it clean and dispose of it properly.     
We hope you will keep these directions in mind.
Thank you.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Coelhos espertos

Com as forças inimigas a entrarem pela cidade dentro, Kadhafi fazia anunciar que passeava anonimamente pela cidade. Mas quem será capaz de passear nas ruas de uma cidade em guerra?
O uso do poder e a sensação da sua perca, propiciam a irracionalidade. Da irracionalidade ao abuso o percurso é nada, rapidamente à sensação do poder a esvair-se se junta a percepção deturpada da realidade. Logo se manifestam atitudes em conformidade, está todo o mundo agindo em contra-mão, apenas ele, o chefe, está no sentido correcto.
Entretanto deixou de passear e escondeu-se. Oferecem-se alvíssaras a quem o entregar, está declarada a caça ao Kadhafi.
Na ilha se Stª Maria os coelhos - que não são conhecidos pela sua racionalidade - fazem buracos (túneis) por baixo das vedações, e, passando para o interior do recinto do aeroporto, conseguem fugir aos caçadores. Cheira-me que o Kadhafi terá aprendido com os coelhos açorianos e utilizado a mesma táctica.  

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Facebook

Tal como na vida lá fora, o facebook não é nem mais nem menos do que um forum. Como em qualquer forum, quando nos dirigimos a uma audiência somos de alguma forma fruto do modo como somos entendidos pelos outros, expomo-nos pública e simultaneamente para uma multiplicidade de pontos de vista na audiência, estamos portanto a sujeitarmo-nos a uma multiplicidade de apreciações.
Quando palestramos tradicionalmente para um conjunto de pessoas, esse conjunto tem normalmente alguma homogeneidade, ou pelo menos algum denominador comum nos seus interesses – que mais não seja porque a palestra será a propósito de algum tema. No facebook não se passa assim, a audiência é heterogénea quer sob o ponto de vista de interesses, quer sob o ponto de vista daquilo que entendem ser o facebook (porque evidentemente não é um instrumento igual para toda a gente).
Este forum assume ainda particularidades novas inerentes às características da comunicação que se estabelece. A comunicação não se processa (literalmente) olhos nos olhos, perde-se a expressão e os seus significados, não se lê, nem se vê, aquilo que numa comunicação directa tantas vezes se consegue perceber de uma forma subentendida. A comunicação cara a cara também não se compõe exclusivamente de palavras, mas quando falamos é todo o nosso corpo que fala, as mensagens processam-se através de todos os gestos e atitudes. Quantas vezes o toque físico ajuda a ser mais explícito?
No facebook perdem-se estas “muletas” do discurso verbal, mas ganham-se outras como por exemplo as imagens. Nunca como aqui, o provérbio “uma imagem vale mais do que mil palavras”, tem aplicação tão adequada.
Depois acontecem dois tipos de mensagens/posts: os que são dirigidos exclusivamente para alguém, e os outros que são dirigidos para todos, para a amálgama. No primeiro caso acho que será preferível o e.mail. No segundo caso corremos o risco de não acertar com a nossa mensagem em ninguém.
No meu entendimento do facebook, em qualquer caso os posts colocados devem ser realmente (por oposição a virtualmente) francos, para que possamos ser então sujeitos a apreciações realmente francas. Aceito no entanto, embora não seja essa a minha atitude, que o facebook seja utilizado para inventar alter egos, personalidades alternativas, heterónimos, pseudónimos ou qualquer personagem – tal como na vida lá fora.

Depois destas asserções, o mais interessante será saber o que dizem os conhecedores das teorias da comunicação acerca deste fenómeno (relativamente) recente que é o facebook em particular, e as redes sociais genericamente.