Um dia de Ventura
Hoje conheci duas pessoas: o Albânio e o Ventura.
Começo por vos apresentar o Ventura, que é mais fácil:
Com os seus oitenta anos, que me pareceram ser só dele, cabelo branco sujo despenteado, dois olhos azuis brilhantes, e fulminantes por isso mesmo.
Camisola vermelha coçada, velha mas muito viva.
Bati à sua porta e chamei: Sr. Ventura! Sr. Ventura!
-- Já vou!
E veio. Explicou-me que as casas eram dos Gatos, que ali em cima é a Qtº da Boa Viagem, que havia aqui (mesmo ao lado) uma figueira de figos pretos. Então e já não há? Não, era aqui mesmo, agora é a minha casa.
-- Você desculpe mas a minha memória… sabe o que foi? Foi na guerra, entrou-me uma bala por aqui – e apontou para a goela – e ficou aqui – e apontou para o crânio.
- Ó homem deixe lá isso, passou… já passou! Atalhei eu, que inquiria sobre História.
- Os Gatos eram gémeos, sabe?
Fiquei com a sensação que já não o hei-de ver muito mais vezes.
Quanto ao Albânio, Manuel de nome próprio, contou-me o episódio do Marquês de Pombal que mandou juntar os jesuítas em cima de um tablado que construiu.
-- Queimou-os todos! Isto já foi há muito tempo, foi no tempo da História!
Percebem então porque esta não é tão fácil como a outra?
Combinámos encontrarmo-nos, na próxima vez.
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